sábado, 19 de setembro de 2009

PONTO DE VISTA DE UM VIGIA” - 1977 - de KRZYSZTOF KIESLOWSKI

TEXTO SOBRE O FILME “O PONTO DE VISTA DE UM VIGIA” - 1977 - de KRZYSZTOF KIESLOWSKI

Segundo Jean-Louis Comolli, em seu livro “Ver e Poder” (capítulo Sob o risco do real), a relação do corpo no cinema documentário trabalha principalmente com corpos feitos e desfeitos pela vida, corpos estes que trazem a luz do visível toda sua originalidade, sua potência e sua experiência junto com todo seu histórico, seus antecedentes como figura humana dentro do grupo social.

Percebo no filme de Kieslowski esse viés, essa realidade, onde de modo profundo um tema recorrente perdura (referente a documentários do mesmo diretor vistos anteriormente em aula), a crítica ou proposta de reflexão a cerca do sistema de governo da Polônia.

O ponto de vista do personagem em questão, o vigia, expõe sua opinião sobre os mais diversos assuntos e acaba revelando uma face autoritária. É como se o Kieslowski colocasse em exposição esse personagem como uma representação mínima de um todo, de todo uma forma de organização e de pensamento. O personagem verbaliza a idéia de que “as regras são mais importantes que pessoas. Se você não obedecer, você está fora de rumo, está no esgoto.” Um olhar um tanto quanto alienado, pois ele não reflete sobre quem cria as regras que precisam ser seguidas, muito embora pareça ter a consciência de que existe toda uma hierarquia da qual ele faz parte, e na qual ele ambiciona subir.

Em terminado momento a câmera toma o olhar do vigia, em subjetiva, e olha pela janela vigiando os transeuntes que passam pela rua. Já na seqüência final vemos o vigia olhando as crianças que estão em uma visita ou exposição e são observadas pelo nosso vigia, que trabalha como censor, um vigia a serviço do regime político vigente em seu país.

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