sábado, 25 de fevereiro de 2012

2012 e a Sambaqui


Muita coisa aconteceu ao longo de 2011, tantas que não tive tempo de vir aqui e postar as novidades.
2012 começou, o carnaval passou e ca estou, assumindo de verdade a vida adulta. Em 2011 me formei na faculdade de cinema, com ajuda de amigos aprovei três projetos audiovisuais. Assisti duas centenas de filmes e li alguns livros uns bons outros nem tanto, ouvi muita música e principalmente firmei parceria com Joana Nin e Ade Muri, somos hoje a SAMBAQUI CULTURAL, produtora especializada em documentários, com atuação no Paraná e Rio de Janeiro.
Para os próximos dias Rio Content Market, Festival de Teatro de Curitiba e Festival de Cinema na Lapa. Pré-produção do curta “O Alfaiate”, captação de recursos para “Segundo ato” e “Notas para o presente – Boca Maldita”, fora mais alguns projetos para serem escritos, pensados e debatidos. E é isso...arregaçando as mangas e indo ao trabalho.


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

“Vincere” - Criação da História

Mussolini (Fillipo Timi) e Ida Dalser (Giovanna Mezzogiorno)
Marco Bellocchio, roteirista e diretor de “Vincere”, faz do cinema uma ferramenta de  manifesto ao recriar uma História, baseando-a em fatos reais, para, no desfecho, apresentar uma “mentira”, uma verdade que não aconteceu de fato.
Em “Bom dia, noite” (2003), Bellocchio narra a história de Aldo Moro (Roberto Herlitzka), o líder da Democracia Cristã, sequestrado e morto pelo grupo extremista Brigada Vermelha. Toda a narrativa se desenrola sobre o que ocorre na noite anterior ao seqüestro, o cotidiano no cativeiro, o julgamento e a libertação. Aldo Moro é julgado pelos seqüestradores, mas tudo isso nos é dado pelo prisma de Chiara, a mulher que namora um dos seqüestradores: ela é o elo entre o grupo e o  mundo exterior. Chiara mantém sua rotina no trabalho, leva alimentos e informações para dentro do cativeiro mas, ao se defrontar com Moro, a personagem começa a duvidar sobre a validade do ato, do seqüestro e da condenação à morte de Moro. Magistralmente, Bellocchio faz com que ele escape na manhã na qual deveria ser executado, o filme termina com Moro caminhado na chuva e o espectador não sabe ao certo quem o soltou e nem se isso de fato aconteceu: a realidade do universo histórico, base da  história de Bellochio, é outra; o Aldo Moro da vida real foi morto pela Brigada Vermelha.
Mussolini (Fillipo Timi) e Ida Dalser (Giovanna Mezzogiorno)

Em “Vincere”, Bellocchio retoma estilo de contar uma história baseada em fatos reais.  Há um segredo na vida de Benito Mussolini (Fillipo Timi): uma mulher, Ida Dalser (Giovanna Mezzogiorno); e um filho, Benito Albino, que nasceu, foi reconhecido e  em seguida renegado. Uma página negra da História italiana ignorada pela biografia oficial do Duce.
Novamente, através do olhar, feminino somos encaminhados pela História que, desta vez, Bellocchio corrompe a partir da relação íntima entre Ida e Mussolini. O desfecho de “Vincere” proporcionará ao espectador um raro prazer, poucas vezes experimentado na sala de cinema: após cento e vinte oito minutos de uma composição de imagem muito bem elaborada, interpretações maravilhosas, uma excepcional inclusão de imagens de arquivo, inserção de grafismos modernistas; o espectador recebe como prêmio um final com ares de realidade baziniana, isto é, uma epifania do real, um final realista especialmente confeccionado para a diegese do filme e não de acordo com a História tal qual a conhecemos.
Sendo o cinema uma arte na qual é necessário um acordo tácito entre o espectador e a obra, onde o primeiro deve acreditar na ilusão de realidade apresentada, mesmo que o cinema exija  dele a abstração da tela plana e o aceite das convenções próprias da linguagem cinematográfica. O diretor impõe a seus "públicos" esse acordo, ao colocar - em uma determinada cena - seus personagens visionando um filme, um cinejornal, cujas informações (contidas nesta projeção) inflamam riv
alidade na platéia que entra em conflito ao som do piano. Som inicialmente utilizado para musicar o cinejornal que, em seguida, transforma-se em trilha sonora para a luta e para a projeção ao fundo. Nesta circunstância sobram semelhanças entre nós, espectadores do filme “Vincere”, e os espectadores do cinejornal da realidade fílmica criada por Marco Bellocchio.
Inteligentemente, Bellocchio utiliza a linguagem do cinema para manifestar com convicção a idéia de que somos mais do que meras testemunhas da História, somos projetados, em “Vincere”, para dentro do filme, numa clara alusão à possibilidade de construir outras realidades.

sábado, 18 de setembro de 2010

Minicurso: produção de roteiros para vídeos de 01 minuto

Programação completa no site http://www.quixoteart.com.br/

"Fuso" no 15° FCBU

Mostra Informativa de curta- Sessão Arco-Íris

http://www.fcbu.com.br/2010

Sinopse: O título sugere uma busca para o sufixo difuso e confuso, além de remeter a fuso, de fuzarca, fuzuê."-Fuso" retrata Ale que não só trabalha num salão de beleza, mas se preocupa com sua própria imagem.

Roteiro e Direção: Sônia Procópio e Rudolfo Auffinger



quarta-feira, 12 de maio de 2010

"DEDÁLO" na Cinemateca de Curitiba/PR


Cena do curta Dedálo, direção e roteiro de Sônia Procópio

No dia 11 de maio de 2010 aconteceu na Cinemateca de Curitiba o início da 3° Mostra o Seu que Mostro o Meu, mostra audiovisual dos universitários do curso de cinema e vídeo da FAP/CINETVPR. Entre os títulos exibidos constava meu último trabalho como diretora e roteirista, “DEDÁLO”.

Tal filme surgiu como exercício proposto em aula na disciplina de direção audiovisual III sob a orientação da docente e diretora Lina Chamie.

Realizado em parceria com meus colaboradores para todas as horas, Rudolfo Auffinger, Matheus Marco Moraes e Fernando Volpi, o filme vai agora para o 5° corte, a cada projeção converso com os espectadores presentes e procuro ouvir atentamente as suas considerações(hábito adquirido graças as aulas de Lina), mas o 5° corte será o último, afinal esse filme precisa estar pronto em algum momento.

O argumento surgiu com base nas diretrizes do exercício proposto em aula e atrelado a leitura de O Castelo de Destinos Cruzados ,de Italo Calvino. No entanto durante o processo o que seria um filme sobre a observação da realidade ganhou ares de ficção e seguiu seu caminho.

Estou muito feliz com o resultado, foi a primeira vez que naveguei pelas águas do humor e foi gratificante ver e ouvir o público rir. Feliz, porém insatisfeita, vamos ao 5° corte e depois festivais.


sábado, 24 de abril de 2010

Novidades Antigas


O filme "- fuso", direção minha e de Rudolfo Auffinger foi selecionado para o Festival CINE ESQUEMA NOVO de Porto Alegre, ele foi projetado na Mostra Meia Noite. Tá atrassado eu sei, isso foi em 2009, mas tá valendo...

domingo, 20 de setembro de 2009

"Estafeta" e "- Fuso"

foto: Eduardo Azevedo

Aconteceu no dia 15 de Setembro/2009, na Cinemateca de Curitiba, a 2° Edição do Mostra O Seu que Mostro o Meu - Mostra Interna de Audiovisual dos Acadêmicos do Curso de Cinema e Tv da Fap/Cinetvpr. A mostra integrou as atividades da primeira semana acadêmica do curso.
Subi ao palco para representar os curta-metragens: " Estafeta" e "- fuso", realizados em parceria com meu amigo Rudolfo Auffinger. 2 filmes e muitos prazeres.

sábado, 19 de setembro de 2009

PONTO DE VISTA DE UM VIGIA” - 1977 - de KRZYSZTOF KIESLOWSKI

TEXTO SOBRE O FILME “O PONTO DE VISTA DE UM VIGIA” - 1977 - de KRZYSZTOF KIESLOWSKI

Segundo Jean-Louis Comolli, em seu livro “Ver e Poder” (capítulo Sob o risco do real), a relação do corpo no cinema documentário trabalha principalmente com corpos feitos e desfeitos pela vida, corpos estes que trazem a luz do visível toda sua originalidade, sua potência e sua experiência junto com todo seu histórico, seus antecedentes como figura humana dentro do grupo social.

Percebo no filme de Kieslowski esse viés, essa realidade, onde de modo profundo um tema recorrente perdura (referente a documentários do mesmo diretor vistos anteriormente em aula), a crítica ou proposta de reflexão a cerca do sistema de governo da Polônia.

O ponto de vista do personagem em questão, o vigia, expõe sua opinião sobre os mais diversos assuntos e acaba revelando uma face autoritária. É como se o Kieslowski colocasse em exposição esse personagem como uma representação mínima de um todo, de todo uma forma de organização e de pensamento. O personagem verbaliza a idéia de que “as regras são mais importantes que pessoas. Se você não obedecer, você está fora de rumo, está no esgoto.” Um olhar um tanto quanto alienado, pois ele não reflete sobre quem cria as regras que precisam ser seguidas, muito embora pareça ter a consciência de que existe toda uma hierarquia da qual ele faz parte, e na qual ele ambiciona subir.

Em terminado momento a câmera toma o olhar do vigia, em subjetiva, e olha pela janela vigiando os transeuntes que passam pela rua. Já na seqüência final vemos o vigia olhando as crianças que estão em uma visita ou exposição e são observadas pelo nosso vigia, que trabalha como censor, um vigia a serviço do regime político vigente em seu país.

O SOM DO CORTE

cena do filme "Atonement", 2007

Antes de a imagem ser registrada fotograficamente, antes da primeira exibição do cinematógrafo dos irmãos Lumière, o homem contava histórias, a oralidade era a fonte de imaginação e transporte de informações, era atributo de realidade.


O cinema como se sabe nasceu mudo, contavam-se histórias através de imagens. No decorrer dos anos a tecnologia avançou suficientemente para que o som pudesse completar o processo da narrativa cinematográfica. O uso do som no cinema vai além das falas sincronizadas ou a inserção de uma música adequada a uma determinada cena. Igualmente como todos os elementos que compõem o todo de um filme (roteiro, fotografia, direção de arte e afins) o som é um elemento fundamental para que a história seja contada com eficácia. Em inúmeros casos o espectador nem percebe seu efeito dentro da narrativa, muitas vezes é um sinal de que o som esta em harmonia com os demais componentes fílmicos e em outras revela uma audição que ainda não está educada para as nuances e aspectos específicos da sonoridade fílmica. Essa não educação auditiva dificilmente perceberá o trabalho de um bom design de som.


Em “Desejo e Reparação” (Atonement/2007), direção de Joe Wright, trilha sonora de Dario Marianelli(ganhador do Oscar 2008), o som é um competente exemplo da contribuição sonora para que uma história seja bem contada.


Nos créditos inicias ouve-se o som de uma máquina de escrever, prenúncio do possível assunto a ser tratado no filme. Ainda nos primeiros minutos o mesmo som volta a ser ouvido e comporá a trilha sonora que segue, dando ritmo e forma no caminhar da personagem principal, Briony.


A história do filme é sobre uma escritora, é sobre contar histórias e como funciona a mente de uma contadora de histórias, com um olhar subjetivo que não capta todos os aspectos da realidade e constrói outras verdades a partir deste olhar. Ao longo dos anos foi conferida a visão/ao olhar o status de autenticidade da realidade, no entanto, em “Desejo e Reparação” é justamente a ausência de som em um diálogo que faz com que a realidade seja apreendida de maneira inadequada, apenas a visão das ações dos personagens que foram observados ao longe não apreende toda a verdade sobre a situação assistida.


A cena em questão é fundamental para pontuar como o som contribui na construção desta história. Após ser deixada sozinha em seu quarto com a sua peça de teatro nas mãos a jovem Briony é surpreendida por um som que vem da janela, esse atiça sua curiosidade e ela caminha em direção ao ruído, junto com ela o espectador ouve o zunir de uma abelha, com a atriz que agora está à janela vemos a abelha com seu ferrão lutando contra o vidro, no entanto, outro acontecimento pode ser visto além da abelha e do vidro. Ao longe vemos Cecília em um diálogo com Robbie, Cecília tira algumas peças de roupa e mergulha em uma fonte, Robbie é visto de costas do ponto de vista de Briony. Quando Cecília sai da fonte com as vestes molhadas e transparentes o rapaz vira o rosto constrangido, a moça é surpreendida pelo grito de Robbie que a alerta sobre os cacos do vaso que estão no chão a sua frente, ela recua e passa pelo rapaz sem pronunciar uma palavra. A jovem Briony, que é irmã de Cecília, observa tudo através da sua janela e sem ouvir o diálogo, começa a formular um pré-conceito sobre Robbie, que é filho de empregados. É importante ressaltar nesta cena a circunstância criada já no roteiro para fazer com que Briony caminhe até a janela, o som a chama, e logo em seguida a falta de som no diálogo entre os dois impossibilita uma apreensão adequada da realidade, levando Briony a construir um julgamento sobre o rapaz, isso somado a outro acontecimento futuro fará com que um grande erro seja cometido.


O diretor Joe Wright nos extras do DVD revela que essa abelha e seu zumbido têm uma função de presságio sobre toda a história, assim como o uso das batidas freqüentes da máquina de escrever.


Outro fator sonoro a ser citado nesta obra é a trilha sonora percussionada pelo som direto acrescido de alguns efeitos. As batidas do guarda-chuva sobre o capô do carro ou o insistente som da máquina de escrever se misturam a trilha sonora e se transformam durante todo o filme, não há separação entre eles.


A cena no café faz uso de uma trilha inserida meta diegeticamente, onde estamos dentro da cabeça do personagem e o som da realidade ou o som direto da cena entra apenas quando Robbie abre a porta, até esse ponto o som direto foi suspenso e ouvimos apenas a trilha. Nesta mesma seqüência temos outro momento em que o diálogo entre os atores foi trabalhado de modo que a velocidade de suas falas revele muito do seu estado psicológico, aonde é possível ouvir com uma clareza impecável o som de uma colher em contato com uma xícara, e salta aos nossos ouvidos o não-dito. Nesta cena podemos ouvir o seu final, pois o som da respiração dos personagens pontua o corte e põe fim a seqüência.


Em um filme sobre contar histórias, o som foi uma ferramenta utilizada de modo a acrescer um valor significativo, ele é um fato que retoma de certo modo as enriquecedoras possibilidades da oralidade de outrora e confere credibilidade à narrativa cinematográfica onde é preciso ver e ouvir para crer.